Um (não) manual para mentes férteis sem agrotóxicos: a (não) maestria
Inspiração: inspirar uma ação.
Estava lá, nadando - ação do nado e, em momentos de lucidez presente, do nada - e as ideias brotando, os frases se formando. Muita ação - present continuous.
Pensando e escrevendo - mentalmente - um texto: uma organização de ideias.
Irrupção do título.
Um manual, correto - exposição do raciócínio lógico, do passo a passo, direcionado à ação. Sim, faço isso da vida. O manual tem o seu valor, na medida em que otimiza o tempo. Creio ser esta a sua função: funcionar a favor do tempo, que parece nos ser cada vez mais escorregadio.
No entanto, sem agrotóxicos, sem veneno: o não manual.
Fica implícita, nisso, a questão da singularidade, da impossibilidade de criar um roteiro de vida geral - uníssono - para todos aqueles considerados dentro de um grupo alvo. Esta proposta equivaleria a envenenar os sujeitos, com o intuito de adestrá-los, "emparedá-los".
A urgência da ação foi concebida também pela maestria, pela (não) função do mestre. Para quem ainda não viu, vale ver: filme ilustrativo dos efeitos da dependência.
E quando não é a figura do mestre, são os livros de auto-ajuda, os programas de televisão, os manuais seguidos à risca (e a sequência interminável de objetos postos na mesma linha de substituição) que nos propõem como nossas vidas devem ser vividas.
Mas e por que, mesmo, devemos receber essas intruções? A felicidade/bem-estar nos é externo? Basta comprar?
Conversava com um amigo sobre o Budismo, sobre a figura do "mestre" Buda e, mais particularmente, sobre a experiência da vida.
Meditação: meditar sobre a ação. Princípio fundamental que pressupõe um não-movimento de ideias, esvaziar a mente, escapar dos pensamentos. Pressupõe o simples (e difícil) ato da presença.
Pressupõe a não consciência do futuro e a não consciência do passado: simplesmente a consciência presente.
Mas para que isso, mesmo?
Para diminuir o ritmo, quem sabe. Para atingir um estado corpóreo-mental de paz, plenitude, descanso. Para ser.
Esssa prática requer uma repetição: uma ação repetida. Requer um manual, uma disciplina, um passo a passo, até que se realize por si só.
E eis onde queria chegar, lá no início - pois não estou aqui meditando, portanto, projeto o futuro e relembro o passado: estamos esperando que a felicidade nos venha de fora, por meio de laços de dependência, que, geralmente, nos trazem o contrário - queixas e doenças?
Estamos esperando que façam por nós o que é (ou deveria ser) de nossa livre vontade? As ações sempre serão nossas, assim como suas consequências.
Os manuais nos são válidos para planejamentos, para colocar em jogo desejos, futuros possíveis, na medida em que delimitam as possibilidades.
A fertilidade, no entanto, não é alimentada por agrotóxicos - por um "sair de cena" enquanto permanência no palco. Requer ação. Inspiração. Meditação. Improvisação.
Manuais, guias, bíblias, fimes, discursos, textos científicos, filosóficos, amorosos, e assim por diante, pressupõem.
A vida, acontece.
Mais ausente ou mais presente.